Perder no jogo, tirar notas baixas na escola, não ter o
brinquedo que quer. Sentir-se frustrado não é exclusividade dos adultos: a
decepção faz parte da vida das crianças e tem papel importante no
desenvolvimento delas. Embora nenhum pai queira ver seu filho triste ou
sofrendo, é preciso ter em mente que ele vai passar por essas situações em
diversos momentos da vida e que elas serão importantes para que a criança
amadureça e se torne mais forte.
1. Quando as crianças começam a ter frustrações?
A resposta é: desde o nascimento. Nos primeiros meses de
vida, o bebê vive uma fase conhecida como fase egocêntrica, que se caracteriza
por desejar que todas as suas vontades sejam atendidas imediatamente.
"Quando a mãe não dá o seio imediatamente após o choro (seu desejo), ela
já o está frustrando", explica Maria Rocha, psicóloga e diretora
pedagógica do Colégio Ápice.
2. Qual a importância de aprender a superar as frustrações?
As frustrações, por menores que sejam e, independentemente
da idade da criança, constituem situações onde ela constrói parâmetros internos
para lidar com situações de conflito, negação e perdas, conforme ressalta
Itamara Teixeira Barra, psicopedagoga e coordenadora do Ensino Fundamental I do
Colégio Nossa Senhora do Morumbi: "Faz parte do desenvolvimento infantil e
do crescer. Nessas situações a criança aprende a ter condições emocionais de se
equilibrar diante de um desconforto". Além disso, aprender a superar as
decepções é um grande exercício de criatividade. "A cada situação de
frustração a criança consegue encontrar algo que a traga novamente ao
equilíbrio. Ela encontra uma saída para lidar com o desconforto. Todo este
movimento tem a ver com a criatividade", completa.
3. Quando posso ajudar meu filho a evitar as decepções e
quando não devo fazer isso?
Sigamos o seguinte raciocínio: se seu filho não estudar e
não se preparar bem, provavelmente terá resultados decepcionantes na escola,
certo? Nesse sentido, você pode ajudar, orientando para que ele se empenhe nos
estudos e evite a situação da frustração. Mas há outros casos em que você não
deve interferir como quando, por exemplo, vocês jogam uma partida de algum
jogo. Não é porque ele é pequeno que você deve deixá-lo ganhar para que não
fique triste. Também não deve dar tudo que ele quer na hora que ele quer: saber
esperar é um aprendizado importante. Maria Rocha, psicóloga e diretora pedagógica
do Colégio Ápice, lembra que os pais não devem ceder às manipulações dos
filhos. "As crianças têm uma enorme capacidade de manipular os adultos e
usam o que mais percebem que os incomoda: choro, recusa de alimentação, perda
do fôlego, bater a cabeça, etc".
4. O que acontece com as crianças que não aprendem a superar
as frustrações?
Os pais poderão atender ao desejo do filho sempre que
quiserem, mas não poderão fazer isso para sempre. "Quando essa criança
crescer e for inserida no contexto social, ela vai vivenciar situações de
frustração que poderão gerar dificuldades emocionais", diz Maria Rocha,
psicóloga e diretora pedagógica do Colégio Ápice. E mais: crianças que não
sabem lidar com suas decepções se tornam adultos que não conseguem perceber o outro.
"Ela cresce pensando que o que vale é o que ela pensa e o que quer. Tem
também dificuldade de se planejar e de desenhar projetos na vida pessoal ou
profissional: como quer tudo do seu jeito e imediatamente, não consegue se
organizar, ter metas e objetivos. Além disso, seus relacionamentos ficam mais
restritos, pois não sabe como levar em conta o que as outras pessoas pensam e
querem", diz Itamara Teixeira Barra, psicopedagoga e coordenadora do
Ensino Fundamental I do Colégio Nossa Senhora do Morumbi.
5. Por que não devo facilitar e deixar meu filho ganhar
quando jogo com ele?
Quando jogar com seu filho, jogue de verdade.
"Facilitar, deixar ganhar só para que a criança não se frustre, mostra a
ela que sempre irá ganhar seja qual for a situação. Quando a criança perder, é
preciso deixar claro que você está ali para ajudá-la a suportar a frustração de
perder. Mas que, de fato, não é sempre que ganhamos. Ganhar depende de vários
fatores como sorte ou boas estratégias de jogo", diz Itamara Teixeira
Barra, psicopedagoga e coordenadora do Ensino Fundamental I do Colégio Nossa
Senhora do Morumbi. Segundo ela, o importante é que a criança perceba que num
primeiro momento a derrota dá uma sensação ruim, frustrante, mas que passa
logo. E mais: sempre há a oportunidade de jogar novamente. Para Maria Rocha, psicóloga e diretora pedagógica do Colégio
Ápice, os jogos também oferecem outros ensinamentos para a criança como esperar
sua vez de jogar, jogar apenas uma vez mesmo se errar, contar os pontos.
"A criança que tem dificuldade de perder tende a manipular tanto os
adultos como outras crianças, desrespeitando as regras a fim de levar vantagem.
É importante que em situações de jogo com os adultos esses não permitam que a
criança mude as regras", diz Maria Rocha.
6. Se é importante ensinar a perder, é também importante
ensinar a ganhar?
Sim, tão importante quando ensinar a perder é mostrar ao seu
filho como ele deve se comportar quando ganha. "Ao ganhar, o importante é
mostrar para a criança que se colocar acima do adversário e zombar são posturas
que deixam o outro em situações constrangedoras e que o "perder" para
o adversário toma uma proporção muito maior. Sentir-se bem, feliz e satisfeito
faz parte de uma situação de ganhar, mas ela não deve desvalorizar o
outro", diz Itamara Teixeira Barra, psicopedagoga e coordenadora do Ensino
Fundamental I do Colégio Nossa Senhora do Morumbi.
A escola e os pais devem ajudar as crianças a lidar com as
frustrações provocada pelas notas baixas. Um dos caminhos, segundo a
psicopedagoga Itamara Teixeira Barra é que as escolas compartilhem com os
alunos os critérios de avaliações que a escola utiliza. Dessa forma, a criança
pode fazer uma autoavaliação sobre seu desempenho. "Já os pais devem
sempre valorizar o que os filhos já conseguiram e deixar claro que confiam
nela, para melhorar e avançar em seu processo de aprendizagem", afirma
Itamara. A psicóloga Maria Rocha ressalta que os pais também podem ajudar as
crianças a rever sua rotina de estudos.
FONTE: EDUCAR PARA CRESCER
Nenhum comentário:
Postar um comentário